quarta-feira, 25 de junho de 2008

Esperança

Sentei-me e olhei em redor. A tarde caía no rumor das palavras enquanto as crianças traquinas corriam e saltitavam livres, pedalando bicicletas de pedais esvoaçantes que as erguiam à altura do infinito. Sim, como eram tão alegres! Perdiam-se nos meandros floridos da vida qual Alice no País das Maravilhas e rebolavam por eles, esquecendo mal e bem na sua inocência, cantando, gritando, sorrindo e gargalhando!

Era assim o passado deles, e assim era o meu. Passado perdido este meu que se perdeu. As flores desse jardim onde brincavam na eternidade murcharam sem os cristalinos sorrisos e das rosas nasceram cruéis espinhos. Labirintos inexpugnados floriram e ainda espreito por eles esperando o dia em que verei chegar aquela bicicleta azul do céu que erguerá véus distantes, num retumbante eclipse que sorrirá, na alva brancura que é tua e minha. No seu cestinho acriançando trará esperança, essa que agora se entrança em desfazadas malhas dubias, essa que quis fugir para os confins do coração, esse que já não bate, esse que falhou. Faltou-lhe sereno o sangue, faltou-lhe o apagado fulgor.

Nada mais direi, as palavras escoaram-se, levadas pela torrencial chuva que se abate da divina catedral que é o teu olhar. Ansierei a esperança, esperarei o amor, aqueles que divinos incendiarão espinhos e tornarão fértil o solo ardido de reclusão. Eclodirão papoilas na inocência que lhes é devida, seremos novamente crianças e brincaremos às escondidas neste mundo que nos esconde o prazer de viver. Não mais estará escondido, ocuparemos esse lugar com chilreares, canções dançantes e sinfonias de embalar. Pois nada mais temos e o que pensamos ter nada é. O vil pesar não existe, o ódio é simples ilusão. Cantemos, pois para isso nascemos, para estarmos vivos e viver!

“Como te chamas, estranho ser”, perguntas-me? Mas que interesse tem uma simples nomeação? Nenhum! Somos iguais e únicos. Somos efémeros e imortais seres com coração.

6 comentários:

Kath disse...

E por isso eu queria ser sempre criança. ^^

Brilhante como sempre, Leto. O último parágrafo está de tirar o fôlego.

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Bigadahhh

Eu sou um estranho ser, eu sou um estranho ser *dançando alegremente em volta de uma fogueira*

Francisco Norega disse...

L.I.N.D.O.
Simplesmente fabuloso! Estou sem adjectivos para caracterizar o texto =P

PS: Podes não acreditar mas na parte em que falas da bicicleta azul lembrei-me do "ET phone home!" na bicicleta com o puto a pedalar, pedalar, pedalar xD

Leto of the Crows - Carina Portugal disse...

Agora que falas nisso, admito que também me faz lembrar.
Mas nunca gostei muito de ver o filme do ET... era demasiado comovente para mim xD

PayNe disse...

Mas que belo pedaço de escrita! ^^ so tenho pena de nao ter inspiraçao para comentar como deve ser. Peço desculpa e para a proxima prometo uma coisa bem melhor. ;)

Bloody kiss*

Ana Sofia disse...

Infância? Graças aos céus que passou. E a melhor prenda de anos que me podia terdado foi a autodestruição da maioria das memórias que tinha dela. Porque quando alguma coisa faz curto-circuito a essas partes bem passadinhas por lápis azul... Perco o controlo, grito e bato contra as paredes. E gostava tanto de poder dizer que estava a dizer isto em sentido figurado.

Se fizer um esforço - e reitero a palavra esforço - lembro-medosalgueiro no quintal do rés-do-chao do prédio, dosmeus legos belleville que tanto gostava, das 700+turmas da mónica que tenho devido a anos e anos de as comprar todas as semanas e de alguns jogos de cantigas no penúltimo ou último ano da primária, quando comecei a ter algo parecido com amigas. O inferno continuava lá, mas não completamente sozinha era mais fácil de aguentar.

[... EMO ALERT IS EMO]