sexta-feira, 26 de junho de 2009

Passado por Existir

Nomeio-te dono de um passado que nunca existiu.
Podes fazer com ele o que fiz contigo,
Chamar-lhe o que não pensas, por puro egoísmo,
Nota alta de barítono enrouquecido
E que nunca soube cantar.

Vá, chama-o, que te quero ouvir
Clamar leda dor pétrea por esse passado vazio.
Que almeja ele pedaços de ti que o consumam
E conspícuos pontos que o constituam,
Como eu me constituí em ti.

Não lhe negues esse pouco de ti que ainda resta.
Não lhe negues, que de nada te serve ser vivo ou morto,
Pedaço intransitável de carne que se decompõe.
Sê dele, do passado que nunca existiu.
E sê meu jantar por digerir.

Não. Não ouviste mal.
A letífica febre que se destila, via Inferno, arqueja
Na avidez árida dos seus desertos, em mim.
Por isso chama-o. Chama o passado por existir.
Que tu te constituis nele. E eu me constituo em ti.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Liriana

As flores que cantam, alegres, ao raiar do Sol,
Têm perfume e fragor de mel aquecido.
Porém, flores que dançam à suavidade do luar,
De fria vida bailam álgida doçura, comigo,
Diluem-se no místico da brisa branda,
E são deusas minhas - Efémeras donzelas do destino.

Well... as efémeras donzelas do destino são umas florzinhas amorosas, e uma dessas flores fez questão de me dar uma prenda de anos via "messenger". Os desenhos ainda não estão acabados, mas eu adorei-os! Por isso, e para compensar o tamanho minorca daquele poema dedicado a todos os meus chers amis que se lembraram de me dar os parabéns (ou foram lembrados à força *cof cof*) vou expor aqui os agora meus desenhos, representando a personagem Liriana, tão amorosamente delineada pela Catarina ^^






sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um Beijo à Alma


Um beijo. E serás minha
Rosa doce de paladar campestre.
Um toque. E deslizarás, suave,
Sobre o peito que te anseia,
Tão vivo e vão de palpitante,
Do não querer que te apartes.
Mas o canto respira amor,
E chama. Como te chama ele!
Deixas-te ir. Desvaneces-te,
Nas palavras quase quentes
Que te sussurro. E adormeces,
Num beijo de engano à alma.

in «O Príncipe do Mar do Interior»,
Capítulo IV - Como Adormecer uma Alma

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Lua



Era uma vez o sol-posto
E o crepúsculo que te ofusca.
Hordas deles que te espreitam
Espraiadas nos véus foscos.
Folgo por saber tão teus,
Dos ditos percursos que percorres
Pelas vastidões do céu.

E que ao se pôr, nasceu,
De ponto a ponta, rosa crescente.
Floresceu. Filho da aurora,
Corola ardente, fogo posto,
Que o apagas no final,
Fria Deusa evanescente,
Nívea nua, Deusa Lua.

Que a grácil noite é tua.
A voz que canta, em sussurros,
Sonhos de divago distante.
Permanece no luar, o teu retrato,
Indistinto intento de semente fértil,
Implantada na nova noite,
E nascida ao romper do dia.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sarhyrt (Felino)


Uranien. Saê uraniê?
Durnin se darar uran.

Ghyrien, ceri saê ê nelorhnien,
Nimani sarhyrt sase ceveron,
Kuoron se frharien
In merigor wueyr
Uthil riern uthil, myrgalash…
Liel in alanien vorghianar

Escutem. Não escutam?
Impossível de imprescindível escutar.
Contemplem, que não o vêem,
Vivo felino das brumas,
Lâminas de garras
E presas fantasmas
Passo ante passo, predador…
Murmúrio e encanto mortal.


(Imagem desenhada pela Catarina (a minha prenda de anos adiantada hehe) representando Landar, uma das personagens de uma história que escrevi.)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Dança!



Um passo e revirou.
As mãos delicadas de seda
Branca e púrpura
Erguiam as pontas do vestido.
Que se baixou e saltou,
Ritmo ao toque do violino.
Vivo e dançou.
Sorriso amplo, que alegria!
Um passo em frente, um passo atrás,
E novo revirar, bailar
Em pontas de pés ferventes,
Uma vénia que recomeça
Que não pára a alma
Esvoaçante.
Rodopia, cabelo solto d’ouro
Corrente viva,
Descalça pelo som.
E canta, oiçam-na cantar!
Rosa acesa do Ocidente
Incendiado. Fogo!
Que arde em fulgor,
Extinta estrela do povo.

terça-feira, 2 de junho de 2009

História Sem Fim


Uma vez, contei uma história a uma criança. Começava com um princípio mas não tinha fim. Contei vezes e vezes sem conta, que me repeti, dia após dia, ano após ano, infinito após infinito, no entanto não lhe discerni o fim. E não o saber doía, que a dúvida carcome e belisca, corrói lenta da fome de devorar. As cordas apertam, as grilhetas ferem e a curiosidade goteja monótona segundo a segundo, gritando muda ao mundo escondido. Alaga-se, mas é contínuo o gotejar, que não se afoga o ser sem o saber, apesar de não respirar. Ora, não é vivo nem morto. Poderei chamar-lhe imortal? Se não pode morrer não está vivo e se não está vivo não pode morrer. Até um dia esta história acabar. Porém, era uma vez uma história sem fim… E por ela, serei imortal, no profundo por descobrir.